"Senhora da Conceição
Minha Mãe
Minha Rainha
Dai-me a vossa proteção
Minha querida madrinha
Vela acesa, subo o morro
Pra pagar minha promessa
Vou vestir azul e branco
Pra pagar eu tenho pressa
Hoje minha mãe querida
Faço essa louvação
Com o povo rendo graças
À Virgem da Conceição"
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Monossilábica, na maioria das vezes, mas quando abria a boca e desembestava a falar ninguém entendia nada. Eu, com o tempo, aprendi a “traduzir” o seu palavreado.
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Ela era uma mulher “feita”, cinco anos mais velha do que eu. Diabética, hipertensa e com uma úlcera gástrica das brabas, doenças que me davam autoridade de fazê-la entender que precisava se cuidar e motivo das nossas brigas. Sempre que passava mal eu lhe inquiria:
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- Mocinha, o que você comeu?
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E ela me respondia com a voz sumida.
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- Nada...
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- Nada o quê, Mocinha?
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E ela confessava.
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- Toucinho, frito com farinha.
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Dava vontade de acabar de matar. E lá ia eu fazer chá, comprar remédios e, por algumas vezes, levá-la nas últimas para um pronto-socorro.
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Parecia um peixe morrendo pela boca. Algumas vezes eu flagrava Mocinha comendo o que não podia. Então, eu “voava” feito um carcará para tirar-lhe das mãos ou da boca as suas “delícias” proibidas.
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Nós nos respeitávamos. Quando ela amanhecia de “lundum” eu fazia de conta que nem via. Afora a falta de cuidado com sua saúde e só gostar de comer o que não devia, era uma pessoa boníssima, adorava minha filha - o que para mim era tudo -, e cozinhava muito bem.
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Minha Mocinha, de quem tenho saudades e até hoje guardo comigo a imagem da Virgem da Conceição que ela me presenteou quando da nossa despedida. Pense num choro!
12/12/2010