Mércia Carvalho
Neta de baloeiro (naquela época podia soltar balão), filha de pai festeiro chegado a um forró pé de serra e mãe chegada a uma comilança, eu não poderia ter saído de outro jeito e não ser chegada a uma festança com arrasta pé e comes e bebes.
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Desde criança, durante o período junino, assistia meu avô materno fazendo balões, para soltá-los na noite de São João, em frente a sua casa no oitão da igreja, lá em Nísia Floresta.
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Mamãe, junto com todas as suas “afilhadas” se embrenhava na cozinha para dar conta do tacho imenso de canjica e pamonha – naquela época era comum presentear os vizinhos e parentes com um prato de canjica - além de arroz doce, bolo pé-de-moleque, bolo de mandioca mole, bolo de batata doce e por aí vai, enquanto ficávamos a espreita para raspar o tacho da canjica e lamber a tigela de bolo.
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Papai se empenhava em construir a imensa fogueira defronte a casa e comprava caixas e mais caixas de fogos para deleite da meninada.
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Estava armado o nosso arraial.
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No cair da noite meu pai acendia a fogueira e começava a festança e enquanto as espigas de milho e batata doce eram assadas na fogueira, ele fazia a distribuição dos fogos entre a filharada.
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A potência dos fogos ia de acordo com a idade e a coragem de cada um. Eu jamais ia além dos traques de chumbo e das estrelinhas - a cada estouro de uma bomba era um choque que eu levava e um pulo que eu dava -, assistia de longe os meninos maiores estourarem as bombas pirulito em baixo de uma lata só pra ver a altura em que ela ia.
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Lembro certa vez eu estava feliz da vida queimando a minha estrelinha quando minha irmã mais velha chegou do meu lado para soltar um “peido de véia” e o danado explodiu na sua mão. O meu susto foi tão grande que desmaiei.
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Que Santo Antonio, São João e São Pedro me perdoem, mas se existe uma coisa nos festejos juninos que eu não acho a menor graça, são as famosas bombinhas.
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Freud explica.
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