LIBERDADE


"Aqui nesta praia onde não há nenhum vestígio de impureza, aqui onde há somente ondas tombando ininterruptamente, puro espaço e lúcida unidade, aqui o tempo apaixonadamente encontra a própria liberdade."

Sophia de M. B. Andresen

domingo, 23 de setembro de 2012

PRIMAVERA


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"Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira." 
Cecília Meireles

domingo, 16 de setembro de 2012

O MEGA AMIGO


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Por 
Mércia Carvalho

Não, ele não é o meu melhor amigo. Ele é mega no sentido de tamanho e volume.
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Dele tenho historias hilárias pra contar e não é mentira não, uma vez que eu faço parte de algumas delas. Lá vai uma!
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Recife, carnaval de 1986.
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Uma semana antes dos festejos de momo lá estava eu nos preparativos para receber a mega figura. A minha primeira providencia foi degelar o “freezer” e a geladeira. Para reabastecê-los fui ao mercado São José, maior centro de tudo que você queira encontrar em matéria de frutos do mar e ingredientes regionais da capital pernambucana, e comecei a minha labuta.
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Fiz um mega cardápio, para sete dias, bem ao estilo da figura, com direito a um fartíssimo café da manhã, almoço substancioso, tira-gostos mil e um prato de resistência para o enfrentamento do carnaval olindense.
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A comilança consistia em todas as ADAS nordestinas possíveis, além de sarapatel, pernil de carneiro e chambaril. E do mar... Ah, do mar? Só não tinha sereia, pois não encontrei a venda.
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E lá estava eu pronta e estocada - geladeira, “freezer” e despensa - para receber a ilustre figura.
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Eis que ele chega, maior do que nunca – tive que abrir mão do meu quarto uma vez que a cama de solteiro que eu havia lhe reservado não era forte o suficiente para acolher aquele mundo de gente – e com uma fantasia para cada dia de folia.
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Estava começando a maratona momesca.
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O dia começava no meio da manhã com um desjejum estrondoso. Ao meio dia o ponto era batido e dava-se início aos trabalhos, etílico e de comilança, que se estendia até o final do dia, hora de esticar até Olinda, aonde ele ia devidamente fantasiado.
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Ainda na terça-feira, final do dia, na hora do “lanche” para ir a Olinda e iniciar o segundo turno, não restava nada do que eu havia feito - que deveria dar para um batalhão durante uma semana inteira - pra contar a história. Exausta, sugeri que fosse pedida por telefone, uma pizza gigante e uma coca-cola de dois litros, o que ele de pronto rebateu:
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- Uma não! Duas pizzas e duas cocas. Sentenciou.
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Quando vi a figura vestida noiva, pronto para mais um expediente, o cansaço me arriou e eu disse a minha filha:
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- Milena, tome conta do seu tio.
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E fui dormir.



CHAMBARIL

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Ingredientes
2 1/2kg de músculo com osso serrado em pedaços (ossobuco)
1/2 kg de cenouras
1/2kg de batata inglesa cortadas a meio
1/2kg de batata doce cortadas ao meio
1kg de jerimum cortado em pedaços
3 espigas de milho verde cortadas em rodelas
1 repolho pequeno cortado em 4 pedaços
2 bananas da terra verde com casca cortada em 2 pedaços
4 cebolas pequenas inteiras
4 tomates picados
2 cebolas raladas
5 alhos amassados
2 folhas de louro
1/2 molho de cebolinha verde picado
10 folhas de hortelã picadas
50 ml de azeite extra-virgem
4 colheres de sopa de molho inglês
100ml de vinho tinto
Pimenta do reino a gosto
Sal a gosto
Óleo o quanto baste
Água fervente o suficiente
Caldo de carne fervente o suficiente
Farinha de mandioca o quanto baste

Modo de Fazer
Limpe os pedaços de músculo retirando o excesso de gordura e tempere-os com as cebolas raladas, o alho amassado, os tomates picados, louro, cebolinha picada, hortelã, azeite, molho inglês, vinho, pimenta do reino e sal a gosto.
Deixe-os no avinhadalho por algumas horas.
Descasque e corte todos os legumes.
Em uma panela grande, de preferência de ferro, esquente um fio de óleo e vá fritando os pedaços de ossobuco até que fiquem dourados.
Quando estiverem todos os pedaços dourados acrescente o restante do caldo do avinhadalho e deixe secar. Deixe-os cozinhando, em fogo baixo, acrescentando aos poucos água fervente.
Quando a carne estiver quase no ponto acrescente os legumes e cubra com o caldo de carne fervente. Acerte o sal e a pimenta e deixe-os no fogo até que a carne esteja macia e os legumes estejam cozidos.
Separe metade do caldo para fazer o pirão.
Em uma panela pequena coloque o caldo, corrija o sal, e leve ao fogo. Vá colocando a farinha de mandioca, aos poucos, mexendo sempre até engrossar.
Aqueça a panela do chambaril e sirva fumegante com o pirão e arroz branco.
Não se esqueça de uma “lapada” de cachaça para abrir o apetite.


domingo, 9 de setembro de 2012

A merenda da Aliança para o Progresso

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Ando preocupada comigo. Estou percebendo que, quanto mais esquecida estou das coisas do dia-a-dia, mais aguçada está minha memória da infância. Lembro-me de coisas do “arco da velha”. Das duas, uma: ou é o stress do meu corre-corre ou é coisa da idade e o meu primo alemão anda-me “sondando”.
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Década de 1960. Menina. Já havendo passado pela alfabetização na cartilha do ABC e pela Tabuada Aritmética com dona Mariinha, com direito a palmatória - pense num tempo difícil -, eu estava pronta para ingressar no 1º ano primário no Grupo Escolar Rural Nísia Floresta, minha primeira escola.
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Na nossa escola e acho que, como todas as escolas públicas daquela época, embora não nos déssemos conta, tínhamos um ensino de primeira qualidade. Pela manhã aula normal. À tarde, aula de trabalhos manuais (corte e costura, bordado, tricô, crochê, pintura e desenho) até a algum tempo mamãe ainda possuía algumas peças feitas por nós naquela época.
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Lembro-me que, às quintas-feiras, todos os alunos ficavam perfilados defronte a escola. Hasteavam a Bandeira do Brasil e cantávamos o Hino Nacional. Depois, íamos ao pátio interno para a sabatina cultural, em que era escolhido um aluno de cada turma para “declamar” poesias de autores brasileiros. Foi aí que “conheci” Gonçalves Dias na sua Canção do Exílio: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá; as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá...”, e Olavo Bilac no seu “Ama com fé e orgulho, a terra em que nasceste; criança, não verás nenhum país como este!”.  Ainda me lembro das duas do começo ao fim. Assim como me vejo recitando.
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Havia, também, a merenda que era distribuída para nas escolas públicas do municio pelo programa norte-americano Aliança para o Progresso, que, aos meus olhos e paladar, era a coisa mais deliciosa do mundo. Porém, eu não tinha direito, pois “era filha de gente rica e aquele mingau era só para crianças pobres”. Pense numa injustiça dessas com uma criança! Mesmo assim cheguei a provar e me deliciar algumas vezes, trocando, às escondidas, com uma coleguinha, o meu lanche trazido de casa, pelo seu mingau. Há se fosse hoje!
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Para o meu consolo havia arroz doce de mamãe, que em nada lembrava o mingau da Aliança para o Progresso, mas era a nossa merenda da tarde.