LIBERDADE


"Aqui nesta praia onde não há nenhum vestígio de impureza, aqui onde há somente ondas tombando ininterruptamente, puro espaço e lúcida unidade, aqui o tempo apaixonadamente encontra a própria liberdade."

Sophia de M. B. Andresen

domingo, 9 de setembro de 2012

A merenda da Aliança para o Progresso

Imagem Google

Ando preocupada comigo. Estou percebendo que, quanto mais esquecida estou das coisas do dia-a-dia, mais aguçada está minha memória da infância. Lembro-me de coisas do “arco da velha”. Das duas, uma: ou é o stress do meu corre-corre ou é coisa da idade e o meu primo alemão anda-me “sondando”.
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Década de 1960. Menina. Já havendo passado pela alfabetização na cartilha do ABC e pela Tabuada Aritmética com dona Mariinha, com direito a palmatória - pense num tempo difícil -, eu estava pronta para ingressar no 1º ano primário no Grupo Escolar Rural Nísia Floresta, minha primeira escola.
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Na nossa escola e acho que, como todas as escolas públicas daquela época, embora não nos déssemos conta, tínhamos um ensino de primeira qualidade. Pela manhã aula normal. À tarde, aula de trabalhos manuais (corte e costura, bordado, tricô, crochê, pintura e desenho) até a algum tempo mamãe ainda possuía algumas peças feitas por nós naquela época.
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Lembro-me que, às quintas-feiras, todos os alunos ficavam perfilados defronte a escola. Hasteavam a Bandeira do Brasil e cantávamos o Hino Nacional. Depois, íamos ao pátio interno para a sabatina cultural, em que era escolhido um aluno de cada turma para “declamar” poesias de autores brasileiros. Foi aí que “conheci” Gonçalves Dias na sua Canção do Exílio: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá; as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá...”, e Olavo Bilac no seu “Ama com fé e orgulho, a terra em que nasceste; criança, não verás nenhum país como este!”.  Ainda me lembro das duas do começo ao fim. Assim como me vejo recitando.
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Havia, também, a merenda que era distribuída para nas escolas públicas do municio pelo programa norte-americano Aliança para o Progresso, que, aos meus olhos e paladar, era a coisa mais deliciosa do mundo. Porém, eu não tinha direito, pois “era filha de gente rica e aquele mingau era só para crianças pobres”. Pense numa injustiça dessas com uma criança! Mesmo assim cheguei a provar e me deliciar algumas vezes, trocando, às escondidas, com uma coleguinha, o meu lanche trazido de casa, pelo seu mingau. Há se fosse hoje!
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Para o meu consolo havia arroz doce de mamãe, que em nada lembrava o mingau da Aliança para o Progresso, mas era a nossa merenda da tarde.

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