Imagem Google
Qual a criança nordestina, criada no interior, que nunca se deliciou com alfenim, geléia de coco, pirulito, pé-de-moleque, puxa-puxa, cavaco chinês, farinha de castanha, rapadura, mel de engenho, sequilho e raivinha?
.
Dou um doce pra quem responder que não. Essas eram as nossas guloseimas.
.
Na minha casa, quando criança, sobremesa e lanche eram sinônimos de frutas. Todas. Mamão, banana, laranja, jaca, sapoti, caju, graviola, pinha, jabuticaba, manga, pitomba, siriguela, cajá, carambola e por aí vai. Doces? Industrializado só a goiabada cascão – que hoje não é mais igual à de antigamente – os outros eram compotas feitas em casa: Jaca, goiaba, banana, mamão, coco verde, laranja, caju... Cada uma melhor do que a outra.
.
Sobremesas propriamente ditas, só o pudim de leite e manjar de coco com calda de ameixa que mamãe fazia para o nosso deleite.
.
Até as raivinhas – a quem chamávamos de alegria – e os sequilhos, tivemos o privilégio de ter como vizinha dona Maria, que fazia no forno de barro construído no seu quintal, os melhores e mais saborosos sequilhos e raivinhas que já comi na vida, cujo perfume inundava o nosso quintal a cada fornada.
.
Refrigerante? Só se estivesse doente e com “fastio”. Aí você tinha direito a um “Guaraná Champagne Antarctica”, aquele da garrafinha, que quando abria chiava e suas bolhinhas faziam cócegas no nariz, acompanhado de biscoitos Maria. Se não, era suco e mais suco, sempre feito da fruta e na hora. Nada de poupa congelada.
.
Bolos? Só nos finais de semana, sempre aos sábados à tarde, lá estávamos nós para ajudar a bater, com uma batedeira manual ou colher de pau. Além do bolo simples de ovos, mamãe fazia bolo de batata doce, de macaxeira, pé de moleque e o campeão na preferência, o bolo de carimã – também conhecido como bolo de mandioca mole – a quem apelidamos de “Inácio”, pois a briga de quem ia lamber a tigela era grande e mamãe nos indagava:
.
- Nunca viu comer não, Inácio?
.
Numa alusão a Inácio, seu amigo de infância que, segundo ela, era esfomeado.